segunda-feira, 1 de maio de 2017

Ciberliteratura e poetas portugueses

Também denominada literatura algorítmica, generativa ou virtual, a ciberliteratura designa aqueles textos literários cuja construção baseia-se em procedimentos informáticos: combinatórios, multimidiáticos ou interativos. Fazendo uso das potencialidades do computador como máquina criativa que permite o desenvolvimento de estruturas textuais, em estado virtual, atualizando-as até ao infinito, a ciberliteratura utiliza o computador de forma criativa, como manipulador de signos verbais e não apenas como simples armazenador e transmissor de informação.
     Deste modo, a ciberliteratura distingue-se da literatura digital(izada), constituindo esta uma hipertextualização de estratégias textuais pré-existentes, em que se verifica uma transição do papel para o pixel em termos meramente técnicos, e ficando aquela dependente de uma construção cibernética ou hipermediática que promove novos modos de escrita e de leitura. Neste sentido, interessa ao ciberautor promover as potencialidades gerativas de um algoritmo, que pode ter uma base combinatória, aleatória, estrutural, interativa ou mista, e permitindo assim o funcionamento do computador como "máquina aberta". Essa "máquina semiótica" de que nos falava Pedro Barbosa altera profundamente todo o circuito comunicacional da literatura.
     A ciberliteratura, através da literatura gerada por computador ou da poesia animada interativa, promove, portanto, a experimentação e o jogo, recriando profundamente conceitos de texto e interpretação, e laborando na senda das vanguardas históricas e dentro do espaço inaugurado pelo experimentalismo universal e intemporal da escrita, da imagem e do som.
     O meio digital apresenta-se assim como um campo vasto de possibilidades para a interligação dinâmica de elementos previamente dispersos, onde esse tecido de citações e espaço de dimensões múltiplas se materializa, engendrando-se ao nível do experimentalismo literário como uma ferramenta de ampliação de espaços e reconfigurações do pensamento, da ação e do sentimento. 
A seguir citaremos alguns poetas portugueses que utilizam de tecnologias e mídias para a realização de seus trabalhos.

Ernesto Manuel Geraldes de Melo e Castro é professor, poeta e ensaísta. É um nome consagrado na poesia experimental e visual, como infopoemas, e podemos vê-lo falando sobre esses poemas no vídeo abaixo:


A obra de Ana Hatherly evidencia a assimilação do experimentalismo internacional característico da década de 1960, designadamente através da espacialização da palavra e da exploração caligráfica da relação entre desenho e escrita, mas também uma grande versatilidade de gêneros, formas e estilos. Uma intensa auto reflexividade é visível em ciclos de permutações paródicas, no desenvolvimento de formas como o poema-ensaio e a micro narrativa, e na desconstrução de uma subjetividade feminizada. A atenção à dimensão plástica e gestual da escrita está patente quer em séries recolhidas em livro, quer nos desenhos e (des)colagens, quer ainda nos filmes e ações poéticas que realizou. A sua investigação acadêmica contribuiu decisivamente para uma revisão da leitura da poesia barroca em Portugal e para o conhecimento da história da poesia visual.
Algumas de suas obras:

















Fernando Aguiar contribuiu decisivamente para a divulgação e afirmação nacional e internacional da poesia experimental portuguesa. Em sua obra, que se inicia na década de 1970, encontramos uma intersecção singular entre escrita, pintura, instalação e performance. O desenho e os processos de inscrição da letra são desenvolvidos num constante contraponto entre a pura visualidade plástica da pintura e da colagem, por um lado, e a sua presentificação corporal através de modos de interação participativa e presencial que envolvem público, autor e signos. A presença performativa e tridimensional da letra e da palavra manifesta-se igualmente em projetos de instalação e de arte pública, como é o caso do parque Soneto Ecológico (1985, 2005), plantado em Matosinhos em 2005. A experimentação visual e sonora com a palavra ocorre ainda sob a forma de livros, mas é no desenvolvimento de uma poética da performatividade presencial do sujeito e da palavra e numa pesquisa plástica e pictórica da letra que a sua obra mais se singulariza.
Algumas de suas obras:





















Larissa de Carvalho.

Um comentário:

  1. Olá, pessoal. Vejo que já há várias postagens. Continuem assim, bom trabalho. Lembrem-se de estabelecer uma discussão sobre os conteúdos por meio dos comentários.

    ResponderExcluir